Hoje refletiremos a respeito da linguagem em crianças muito pequenas e da influência da música em sua formação. Para isso e antes de mais nada, precisamos entender o que seria linguagem.
Aqui, consideramos a linguagem como um elemento da vida social que conecta dois ou mais indivíduos com o meio em que vivem. Nesse sentido, ela é uma habilidade que passa por vários momentos, tais como a formação de sons e de um sistema de regras, a memorização de uma quantidade de informações e a atribuição de sentidos e significações a essas informações.
Para que essa habilidade se desenvolva, é imprescindível que a criança tenha uma rica interação com o seu meio, pois é a partir disso que ela terá acesso aos estímulos sociais. Assim, ela terá a oportunidade de internalizar seus esquemas sensório-motores a fim de adaptar seu corpo às respostas provocadas por essas interações. É em contato com o meio que ela também terá acesso a fatores culturais com os quais começará a dialogar desde muito cedo.
DESENVOLVIMENTO TÍPICO DA LINGUAGEM ATÉ DOIS ANOS DE IDADE
Agora que já compreendemos o que é linguagem, precisamos entender como ela se desenvolve para, assim, podermos estimulá-la de maneira oportuna.
O desenvolvimento da linguagem ocorre em duas fases: A pré-linguística, que engloba o choro, os sons guturais e o balbucio e a linguística, que se refere ao momento em que surgem as palavras. No texto de hoje vamos focar nessa primeira fase pré-linguística.
Logo que nasce, o bebê já tem sua atenção voltada para os sons. Mesmo sem o aparato auditivo completamente amadurecido, ele consegue olhar na direção da fonte sonora, reconhecer a língua materna e distinguir diferentes entonações.
O choro é a primeira forma de comunicação do ser humano. É ele que permite o aprendizado do controle de movimentos motores, respiratórios e laríngeos e, portanto, vai dar a base sensório-motora para o desenvolvimento da linguagem. De extrema importância, tem função de sobrevivência, já que através dele o bebê manifesta fome, incômodo, dor, sono, etc., de acordo com a variação de intensidade, tonalidade, ritmo, entre outros.
Durante os seis primeiros meses de vida, surgem os sons guturais, produzidos quase sem uso de lábios e língua. Estes serão incluídos pouco a pouco, enquanto o bebê descobre um repertório cada vez maior de sonoridades que é capaz de produzir na boca.
Juntamente com essas descobertas, começam a aparecer os balbucios. Essa forma de linguagem é caracterizada pela produção e repetição de sons como, por exemplo, ma-ma, pa-pa, de-de-de. Inicialmente, esses sons não possuem significados, mas são o resultado de uma exploração lúdica do aparato buco-facial.
Por volta dos dez meses de idade, esses jogos vocálicos já se tornam propositais e cheios de significados. Com maior consciência dos movimentos respiratórios, o bebê já consegue produzir deliberadamente sons com diferentes intensidades, timbres e durações, sons estes que já possuem caráter expressivo.
Já a partir de um ano de idade, a criança começa a transição para a linguagem verbal, utilizando algumas palavras. Seu vocabulário passa, então, a aumentar, de modo que com dois anos já se torna capaz de emitir pequenas frases estruturadas por substantivos, em sua maioria.
A MÚSICA E A FASE PRÉ-LINGUÍSTICA
Agora que já sabemos o que é linguagem e entendemos as fases pelas quais os bebês e as crianças muito pequenas passam durante o seu desenvolvimento, podemos investigar de que forma a estimularemos para que se dê de forma rica e divertida. Para isso, vamos retornar ao que foi dito no início desse texto: Para que a linguagem se desenvolva, a criança precisa passar por momentos como a formação de sons, o desenvolvimento de um sistema de regras, a memorização de uma quantidade de informações e a atribuição de sentidos e significações a essas informações.
Nesse momento, todo estímulo recebido se transforma em aprendizagem. Todo estímulo ajudará a criança a formar um repertório de cores, sons, formas e gestos que fortalecerão seu vínculo com o meio e, assim, fornecerão as informações de que precisa para que desenvolva a sua linguagem.
A música, por ser uma vivência que enfatiza a exploração dos sons, se torna um estímulo essencial. Quanto mais rico for o ambiente sonoro, maior a possibilidade da criança descobrir em si mesma, formas de imitar e reproduzir diferentes sons. As canções motivam naturalmente a exploração do aparato buco-facial pelas crianças que se sentem movidas a cantarolar. A importância dos estímulos auditivos são cruciais, tanto que podemos observar ocorrência de perdas significativas no processo de aquisição da linguagem em crianças que não os vivenciam como, por exemplo, é o caso de crianças surdas.
O profissional responsável pela musicalização de bebês e crianças muito pequenas deve estar consciente dessa urgência da música, mas também deve entender que, durante a fase pré-linguística, a criança precisa aprofundar sua linguagem não-verbal composta, também, de expressões faciais e gestuais. Histórias e canções acompanhadas de modulações de voz, face e gestos, trazem à criança, uma quantidade de informações cheias de sentido e significados. Nesse estreito contato com seu professor, ela pode observar a sistematização dos movimentos faciais e de braços e das articulações das palavras que, paulatinamente, começará a imitar.
A imitação, no entanto, não deve vir apenas da criança. O eco que os adultos fazem ao balbucio dos bebês é um estímulo fonético e psicológico de grande importância. O ser humano, assim que chega ao mundo, já começa a atuar criativamente. Essa realidade nos diz que toda e qualquer pessoa pode colaborar na aprendizagem e no crescimento de todos ao redor. Nesse sentido, é fundamental valorizar as formas de contribuição do bebê e da criança pequena nas interações sociais. Utilizar o repertório de sons trazidos pelas crianças, carregando os mesmos de expressividade e, pouco a pouco, os enriquecendo com novas sonoridades faz com que a interação a dois de fato ocorra, condição esta imprescindível para a existência de linguagem.
Tendo tudo isso em vista, é correto afirmar que as vivências musicais mediadas por profissionais conscientes e competentes em sua intencionalidade pedagógica trazem resultados inquestionáveis no desenvolvimento da linguagem. A Educação Musical ocupa um lugar de importância tal na aquisição dessa habilidade que deveria ser considerada um direito irrevogável de todo ser humano, principalmente na fase pré-linguística, em que o contato com a diversidade de sons se torna fundamental à evolução para a fase linguística e ainda à posterior transição desta para a linguagem escrita, que se inicia ao final da primeira infância.
Nos despedimos com um vídeo de uma de nossas atividades que estimula a linguagem. Boa apreciação e até a próxima reflexão!
Flávia Cappelletti
Adorei o texto e amo as aulas!
Muito obrigada, Vanessa! E Nós amamos o nosso trabalho!
Excelente artigo e já compartilhado entre mamães! Sucesso sempre, A Casa do Som ✨
Juliana, muito obrigada por compartilhar! Quanto mais pessoas compreenderem a importância da música na vida das nossas crianças, maiores são as chances de tornarmos esse mundo um pouco melhor!
Boa noite. Meu filho tem atraso na fala já vai fazer 3 anos semanalme te visita a fonodiologa porém gostaria muito que ele participase das aulas como faço?
Oi, Rosana! Realmente as aulas de música ajudariam muito a acelerar a falta do seu filho. Por favor, mande um e-mail para acasadosom@acasadosom.com ou entre em contato com o nosso Whatsapp (21) 993171585 para que possamos agendar a sua aula experimental.
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